Saúde
Um olhar para um mundo com saúde mais igual
Pesquisador Cesar Victora apresenta em Pelotas o seminário Hipótese da Equidade Inversa
Jô Folha -
O Centro Internacional de Equidade em Saúde realizou na tarde desta terça-feira, em um seminário conduzido pelo professor emérito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Cesar Victora, a Hipótese da Equidade Inversa. Nele, foi apresentado o estudo apontando que políticas públicas, considerando o mundo inteiro, tendem a beneficiar grupos sociais mais ricos em um primeiro momento.
A partir de análises de acesso aos serviços de saúde, bem como à sociedade em geral, foi apresentada a proposta de que a disponibilidade de bons cuidados médicos possui uma tendência a variar inversamente com a necessidade da população servida. Desta forma, a adoção de novas práticas chega sempre em um primeiro momento às elites mais privilegiadas e só posteriormente às minorias, tendendo a causar ainda mais desigualdade de início. "Se eu já morro menos e surge algo que me faz morrer menos ainda, a desigualdade vai aumentar", defende o pesquisador.
Ele dividiu as populações em parcelas de 20%, do mais pobre ao mais rico. O gráfico apresentado expõe que a distância é enorme. Se for calcular a localização média do acesso básico, a diferença é ainda maior. A variável mais desigual apontada foi o parto institucional. Foram estudados 286 inquéritos de 113 países, considerando cerca de 4,5 milhões de mulheres. A cobertura do parto era realizada conforme a riqueza (calculada a partir do índice de bens, e não de renda). "Na nossa hipótese, propusemos que quando a cobertura é baixa, o rico está à frente de todo mundo", explica. Já quando a cobertura aproxima-se do acesso universal, apenas o muito pobre, em especial o público rural, fica muito atrás.
Ele expôs que algumas áreas não apresentam tantas desigualdades. No entanto, para combatê-las em geral é necessário um enfoque prático, não só apenas do Poder Público, mas também dos serviços de saúde, que na sua concepção, contribuem neste abismo. Seja por distância, cobranças ou dificuldades de acessos de uma população, tal diferença é aumentada quando não há o fácil acesso.
Como resolver?
"É possível melhorar, as desigualdades não são eternas", frisa Victora. Ele cita o próprio Brasil, que havia diminuído desigualdades como a mortalidade infantil (que, contudo, voltou a crescer em 2016 e 2017). Para isso, diz que o setor de saúde deve se reconhecer como parte do problema, identificando situações nas quais pode aproximar-se da população.
O pesquisador também citou itens como monitorar desigualdades, priorizar os pobres e suas doenças, considerar padrões de desigualdade focalizando os programas a estes públicos, a descentralização e a inclusão através de incentivos para facilitar o acesso à maior equidade por parte destes públicos. Nas implicações práticas, a identificação de baixa adaptação e a inclusão são itens a serem explorados para diminuir esta desigualdade.
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